E depois de todas as coisas passadas, as experiências vividas, paira por aqui a dúvida de merecer ou não, de pertencer ou não.
A sensação de inércia no entanto, se dissipa em cada um de seus sorrisos, nas palavras que você profere sem nem ao menos se dar conta. E porque você tinha de ser tão desejável ao meu coração que fizesse cada um dos meus neurônios ambicionarem os seus?
Não sei ao certo. Aliás, de você eu só conheço o que posso ver. E vejo pouco, e nem sempre, e por ser rara torna-se cada vez mais imprescindível a sua presença, o seus gracejos, e até o seu silêncio.
Parece-me que me contentaria com seu sorriso, se o tivesse todos os dias, com sua voz, se a ouvisse sempre. Mas o sempre entre nós são poucas horas de uma semana que corre rápido demais, ao menos para mim e em mim.
E se você viesse pra mais perto ? E se cada um dos meus anseios se materializassem subitamente em você? Se cada uma das minhas racionalidades contemplassem seus planos?
Os meus livros tão solitários encontrariam abrigo nos seus, a miríade dos seus conhecimentos doutrinaria os meus, e eu jamais me importaria em saber menos, porque saber menos significaria tê-lo sempre me ensinando.
A simples companhia dos teus olhos já me faria bem.
Seríamos um só. Pergunto-me seriamente, o que Deus teria a dizer sobre meus devaneios, e só consigo imaginá-lo sorrindo.
Pergunto-me o que você teria a dizer, e me foge qualquer criatividade.
Você neutraliza minhas potencialidades femininas. Você é imune a qualquer feitiço que eu pudesse lhe ministrar. A incógnita dos teus olhares me consome, a multiplicidade dos teus pensamentos me inebria.
E de qualquer maneira, se for apenas um relato platonicamente frustrante dos meus desejos internos, restará a lembrança do seu sorriso para visitar sempre que eu quiser.
J.K.Cotting